sexta-feira, 19 de junho de 2009

A difícil tarefa de deixar para trás


De vez em quando minha auto imagem é a de uma Eleanor Rigby com um gigantesco carrinho lotado de apetrechos e lixo. Que os eco-maníacos de plantão não me leiam, mesmo porque se evito o termo material reciclável é justamente devido à minha necessidade de dar ênfase à inutilidade do que venho arrastando.

Um dia, ao me lembrar de um fato constrangedor, corei. Tal fato ocorreu há quase vinte anos! Lixo. Que me servisse de lição. E só.

Tive que sacrificar uma das minhas gatas e eu simplesmente não consigo me lembrar do instante em que a veterinária me entregou o corpinho ainda quente e flexível, sem sentir uma dor tão profunda que me assusta.

Eu fiz o que pude. Por que a culpa? E a dor extrema?

Levei algum tempo para aceitar que a pessoa que estava ao meu lado não está mais. Gastei horas pensando nos erros, consertando mentalmente, para descobrir o óbvio: se um cara quer uma garota, ele se manifesta.

É preciso deixar ir, deixar passar, deixar estar...

Ao dia sua própria aflição.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

CIA, KGB, LMS, JAS



Meu pai, o Sr distinto da foto ao lado, comprou uma antena americana para melhorar a imagem das TVs daqui de casa. Não temos TV paga, em parte porque eu odeio TV e ele só assiste ao Jornal Nacional. Gostos duvidosos à parte. O que me intrigou foi o fato de que ele relutou em instalar a dita cuja, com medo de espionagem. Isso mesmo.
Não, meu querido progenitor não é paranóico, até onde eu sei. E também não tem traumas de guerra. Nem assistiu Arquivo X, não conhece o Garganta Profunda e não quer acreditar. Mas desconfia dos norte-americanos. Fiquei um tempo pensando se deveria tirar dele essa idéia e valorizar a imagem da TV. Desisti.
Vai que ele tem razão?!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carta a(o pai de) Sofia

De onde você está, não sei o que vê. Talvez me veja de cima ou compartilhe meu espaço; mas sei que está por perto. Muito provavelmente porque quero que esteja. Espero e desejo que esteja.
Não pertence a mim agora. Pertence só a ele. Ao pai. Seu pai. Quando puder, venha visitá-lo. Não traga doces, flores ou incensos. Traga um mapa. Decodifique seu labirinto, coloque seus pés em movimento e desenrole-o do caracol.
Se puder, fique forte e visível e sussurre um beijo ou encoste seus pequenos dedos nas grandes mãos que, entrelaçadas, se limitam.
Levante a cabeça, que pesada de tanto uso, pende. Mostre ao seu coração, seu próprio reflexo. Apenas. Faça-o ver que a compaixão também é destinada a quem sente.
Ao passar-lhe os dedinhos pelo cabelo, não seja breve. Sente-se ao seu lado. Ouça o seu respirar. Distraia seu sofrer. Cante para ele canções de infância...
Cante por mim...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O coelho

Coloquei os pés para fora de casa
Só os pés
Assim, pela janela mesmo
E o dia foi diferente.
Aí eu coloquei as mãos
E fiquei acenando
Sem cabeça ou corpo
Só mãos e pés
Coloquei a cabeça
E finalmente vi o mundo
Que me via
Os pés e as mãos
E tendo visto o mundo
Saí de casa
De corpo todo!

A resposta

Isadora estava feliz
Chuva lá fora
Ecoando tamborins
Ela dançou
Sem sapatilhas
Pé frio
Toca o telefone
E o coração sufoca
O som
Tam-bo-rim
Tum-tum
Trim