- Hoje eu me peguei pensando em coisas antigas, Sam. Em antigos empregos, na minha ex chefe! Aí me lembrei de que ela havia me recomendado um livro... Não me lembro o nome. Mas isso não é importante, acho. Ei, me lembra de contribuir para a Associação dos Idosos Vitimados por Alzheimer!
- Engraçadinha.
- Então. Ah, nada de mais, era só um comentário sobre anjos vindo à terra, como naquele filme do WW. O que me marcou foi quando ela comentou que eles haviam sido prevenidos de que sentiriam uma angústia e que dificilmente encontrariam a fonte. Claro que não acredito em anjos, gostaria, mas não acredito. Fiquei pensando nessa angústia. Será que o escritor era um cara só e por isso valorizava tanto isso de querer ser completo?
- Eu sou só, eu me sinto só. Cansei de falar que tenho medo de morrer sozinho e ouvir uns espertinhos retrucarem que todos morremos sozinhos. O pior de ser só é passar por extremos sem poder olhar para alguém e esse olhar significar alguma coisa. Não é só um negócio de ter gente por perto, é qualidade disso. Claro que eu posso ligar pra você, contar tudo. Ou esperar um dia e conversarmos pessoalmente. Mas ainda vai ser a Dina, que um dia vai pra longe, vai se casar, ter filhos, virar gente grande! O que eu sinto é um não preenchimento, não um vazio, é diferente. Está aí, eu sei. Faz parte da busca.
- Dizem que na floresta, as mariposas enxergam o brilho da lua e voam tentando alcançá-lo, aí se distraem com as árvores e ficam por lá. Mas nas cidades, a luz da lua é ofuscada por outras, artificiais. E ao seguir, são queimadas por lâmpadas. Mas nunca aprendem, continuam buscando e morrem queimadas.
- É triste.
- É sim. É como se a própria natureza nos enganasse. O que é desonesto demais...
Não continuou. Não porque tivesse ficado sem palavras, mas porque estava difícil se concentrar com as risadas dele.
- Só vou dizer uma coisa Samuel se você me ameaçar com casamento e filhos de novo...