quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Das horas de Dina e Sam - a angústia

- Hoje eu me peguei pensando em coisas antigas, Sam. Em antigos empregos, na minha ex chefe! Aí me lembrei de que ela havia me recomendado um livro... Não me lembro o nome. Mas isso não é importante, acho. Ei, me lembra de contribuir para a Associação dos Idosos Vitimados por Alzheimer!


- Engraçadinha.

- Então. Ah, nada de mais, era só um comentário sobre anjos vindo à terra, como naquele filme do WW. O que me marcou foi quando ela comentou que eles haviam sido prevenidos de que sentiriam uma angústia e que dificilmente encontrariam a fonte. Claro que não acredito em anjos, gostaria, mas não acredito. Fiquei pensando nessa angústia. Será que o escritor era um cara só e por isso valorizava tanto isso de querer ser completo?

- Eu sou só, eu me sinto só. Cansei de falar que tenho medo de morrer sozinho e ouvir uns espertinhos retrucarem que todos morremos sozinhos. O pior de ser só é passar por extremos sem poder olhar para alguém e esse olhar significar alguma coisa. Não é só um negócio de ter gente por perto, é qualidade disso. Claro que eu posso ligar pra você, contar tudo. Ou esperar um dia e conversarmos pessoalmente. Mas ainda vai ser a Dina, que um dia vai pra longe, vai se casar, ter filhos, virar gente grande! O que eu sinto é um não preenchimento, não um vazio, é diferente. Está aí, eu sei. Faz parte da busca.

- Dizem que na floresta, as mariposas enxergam o brilho da lua e voam tentando alcançá-lo, aí se distraem com as árvores e ficam por lá. Mas nas cidades, a luz da lua é ofuscada por outras, artificiais. E ao seguir, são queimadas por lâmpadas. Mas nunca aprendem, continuam buscando e morrem queimadas.

- É triste.

- É sim. É como se a própria natureza nos enganasse. O que é desonesto demais...

Não continuou. Não porque tivesse ficado sem palavras, mas porque estava difícil se concentrar com as risadas dele.

- Só vou dizer uma coisa Samuel se você me ameaçar com casamento e filhos de novo...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009




Lá longe onde as folhas caem sem fazer barulho, onde o vento é tão suave que as próprias árvores precisam se desprender dos frutos para que suas sementes germinem, bem lá longe onde faz diferença ser bom ou mau, era onde morava essa lagarta.


Claro que não era uma lagarta comum ou eu não estaria perdendo tempo escrevendo sobre ela. Com o perdão das lagartas comuns. Era uma lagarta irônica. E irritada. Muito irritada. Principalmente com o fato de que detestava sua vida de lagarta. Na verdade, o que realmente detestava era o fim da sua vida de lagarta. Borboleta. Urgh. Seria melhor morrer do que ao invés de um corpo tenro começar a ter pontas, articulações... Asas?! Quem gostaria de ter asas? Suas amigas diziam que fazia parte da vida ser borboleta e poder voar compensaria todo o processo. Toda a escuridão, toda a dor.

“Eu não”, pensava. “Bom mesmo é ter cem pés! É sentir o cheiro das flores e ao mesmo tempo sentir sua textura com todo o corpo! E se realmente existe um Pai de todas as lagartas ele compreenderá minha decisão de ser lagarta para sempre.”

Os dias foram passando, as flores foram murchando, e ela notava que cada vez menos lagartas se juntavam para contar a história do povo antigo. Uma única expressão de orgulho e inveja clareava o mistério: casulos! Todas estavam se preparando!

“Eu não serei pega de surpresa! Sentirei logo a mudança qualquer que seja! Prestarei atenção ao mínimo detalhe, à mínima mudança no meu corpo!”

E assim foi. Um arranhão aqui. Uma pintinha nova. Uma pequena dor de barriga! Nada grave. A não ser o frio nos pés... Isso sim incomodava! Mas além de irônica, era uma lagarta esperta e teve uma idéia! Enrolaria uma folhinha nos pés. Porém, o frio foi subindo devagarinho e ela foi precisando cada vez de mais folhas, pequenos gravetos... Quando já estava imobilizada quase até a cintura foi sentindo uma vontade de ficar assim, de aproveitar o tempo frio para pensar na vida, mudar algumas coisas! Seria bom ter a chance de mudar!

E foi assim. Sutilmente abraçada pela mudança. Até que o sono passou, o calor veio, as flores voltaram... e a borboleta esticou suas asas novas, enrolou a ponta de suas antenas e voou.

“Não faço idéia de como vim parar nesse emaranhado de folhas e galhos, mas foi bom sair e sentir o vento!”



quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Homens, mulheres, trânsito e ron rons - prioridades


Trânsito é uma coisa de homem. Eles pelo menos consideram assim. Hoje eu tive algumas experiências marcantes no caminho casa-paço-casa. Ao sair - atrasada, claro – parei em um farol e fui abordada por um vendedor de balas de hortelã. Nada incomum, não fosse o fato de que ele deu uma bela olhada para o painel do carro. Intrigada olhei também. A luz do combustível estava piscando! Não estava no limite, não estava vermelha... estava piscando! Em minutos ficaria parada, o que daria um ótimo assunto para ser discutido em outro post, gostaria de saber quantos me ofereceriam ajuda. Meu lema em punho, escolhi o posto mais próximo, mentalizei o caminho e fui. Comecei a subir o viaduto que leva para Santo André, nenhum carro atrás do meu, tudo sob controle. Até o carro ao lado acelerar e querer entrar na minha frente. Não, ele não queria simplesmente entrar na pista em que eu estava, ele queria entrar na pista só que na minha frente! Como se fosse humilhante ficar atrás de uma motorista. Ou pior: como se fosse humilhante frear até que o outro carro passasse. Homem que é homem não freia. Não dei passagem. Se houvesse algum carro atrás de mim, teria feito a gentileza.
Posto de gasolina. Ninguém me ouve, imagina o frentista acostumado ao transito da Av Atlântica. Atenção mulheres: nunca, nunca, nunca fiquem em uma posição em que não conseguirá ver o marcador da bomba. A chance de o frentista enrolar você é grande. E para não deixar de ser, o cara me mandou descer o carro! O chão era reto! Controlando minha irritação, apenas perguntei se era para frente que ele queria que eu fosse. Ele repetiu descer, eu repeti minha pergunta, ele concordou. Não sem antes fazer um comentário maldoso para os colegas, claro que não foi suficientemente alto, só vi as risadas. Ignorei, e segui meu caminho. Não sem antes quase atropelar outro frentista que muito provavelmente foi com a minha cara e queria que eu o notasse. Fiz cara de lobo faminto e fui embora. Vou me lembrar de nunca mais voltar lá.
Volta para casa. Ruas que se estreitam e viram mão simples são um prato cheio para homens. A passagem é sempre deles, claro! Instituída por Deus! Não importa se você estava na frente, estreitou, eles aceleram... Eu não deixei de novo. Nunca duvidem do poder de uma TPM em uma mulher naturalmente brava.
Pista lerda em que eu estava! Visualizei uma brecha na pista da esquerda e fui. Não sem que o motorista do Civic champagne acelerasse e tivesse sua mão subitamente atraída pela buzina. Nunca um Celta 1.0, com uma mulher no volante poderia ficar a frente de um Honda! Sacrilégio! Ele me seguiu até a entrada de um dos bairros mais perigosos daqui e sumiu. Eu fiquei pensando se não devia ter me arriscado menos.
Não quero reinar entre faróis e guard-rails, quero chegar em casa sã e salva para ouvir o ronronado do Cael! Mas por um instante eu me senti vingada!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Das horas de Dina e Sam - o fora

- Posso dormir aqui, com vc?
- Tenho a impressão de que já ouvi essa frase em uma música, rs. Desculpe, piada fora de hora. Pode sim. Aconteceu alguma coisa? Sam, é uma pergunta simples... não precisa chorar se não quiser responder. Senta aqui no sofá, em dois segundos eu trarei um chá. – ele levantou uma sobrancelha – Só bebo aos fins de semana.
- Desde quando?
- Desde ontem. Volto já.
Sabia que Sam não era o mais bem sucedido dos homens nos relacionamentos. Talvez fosse mais fácil se não fosse gay. Ou não. De uma certa forma os relacionamentos são difíceis para todos. Apenas algumas pessoas têm o dom de acertar de primeira (ou de segunda, ou terceira... entende?), e acabam se casando com 21 anos, tendo filhos cujos nomes já estariam escolhidos desde a infância. Não brinco, falo sério. Tenho uma amiga que desde os 8 anos decidiu que teria um filho chamado Guilherme. Advinha qual novidade me contou após dez anos de distância? Estou ficando óbvia.
- Chá... Beba enquanto estiver quente. O que foi?
- Cor linda. Nunca tomei um chá vermelho. – fez uma careta – e nunca mais vou tomar! Bem, depois do segundo gole, melhora. Sabe quando a gente é criança, se sente doente, mas como nunca passou por todas as dores de cabeça da vida, não sabe como descrever? É assim que me sinto. Eu não sei e eu não consigo entender. Se soubesse como é, talvez pudesse desmontar e lidar com as peças uma a uma. Sei que dói e muito. E sei que vai passar, mas de forma tão lenta que eu vou carregar isso por anos! E mesmo que passe, sempre me lembrarei disso quando fizer as contas de quantos relacionamentos já tive. Sinto o vazio, a dormência, a vergonha. É como se eu soubesse ser uma fraude e tivesse tentado voar com minhas asas de cera. Eu caí. Certo? Eu acreditei uma segunda vez que pudesse ser diferente e fui sem reservas ao vôo.
- Sam, eu não vou conseguir consolar você então vou direto ao que penso. Acho que encarnar o sofredor vai fazer sua dor passar tanto quanto ficar sentadinho esperando. Pensa comigo, passou por joguinhos, por idas e vindas, por mentiras e mentiras... Foi apoio, cozinhou o prato preferido dele e teve que jantar sozinho! Não devia ter dado tantas chances. É claro que eram amigos, mas depois de misturados os ingredientes, não há controle sobre o resultado final, acho. E também não vejo meio de separar sem que haja um pouco de cada um no outro. Não é que eu valorize as experiências, sei com dói. Sei como é bom ter alguém do lado, poder contar as coisas pequenas.
- Sabe do que eu mais sinto falta? Daquela curva do pescoço... Gostava de colocar meu rosto ali e sentir o calor... Quer que eu me sinta agradecido por ter levado um fora?
- Não. Quero que você veja o céu tanto quanto vê a terra. Com asas de cera, ou não, ainda dá para aproveitar a paisagem. E além do mais... está na cara que estamos nos divertindo mais com a busca do que com os encontros! Cara, eu poderia matar por uma taça de vinho!

domingo, 13 de setembro de 2009

Das horas de Dina e Sam


-1-

- Ele morreu – ela disse colocando a bolsa sobre a mesa do bar.
- Quem morreu?
- Meu poodle, ele morreu ontem.
- Ah... – desapontado.
- Você achou que fosse... – ela o olhou inquisitoriamente.
- O idiota do Leonardo Stil, mas – suspiro – Deus não seria tão bom a ponto de mandá-lo para o inferno.
- Seria um problema de jurisdição – ela riu – e o Diabo talvez não o quisesse.
- O que você pretende fazer?
- Comprar outro. E não me olhe com essa cara feia de quem diz que não dá pra substituir todo mundo que morrer, não entenderia minha relação com cachorros. É vital.
- Vai beber ou não?
- Cadê o restante do pessoal?
- Só nós.
- Vamos ao álcool!
- Finalmente consegui.
- ...
- Trair meu homem sem culpa.
- ...
- Valeu a pena.
E depois de um tempo: - Sinto falta dele... Do poodle.
- Amarga.
- Você também seria.

-2-

- Você diz isso porque foi a Isa que fez, se fosse um de nós você perdoaria!
- Claro que não.
- Imagina, é fato. Se o seu pai pisasse no seu pé você o mataria, certo? – ela assentiu- Agora, se o grande amor da sua vida fizesse o mesmo...
- Eu aceitaria as desculpas – concluiu meio que a contra gosto.
Tomaram mais um gole e depois de um longo silêncio preenchido apenas por tragos e olhares desfocados para o exterior do bar, ela levanta, toma todo o conteúdo do copo, pega a bolsa , e diz, já saindo:
- Vou matá-la.
Ele se levanta também. E choram. Abraçados.

-3-

- O que você fez com o que sobrou?
- Joguei fora.
- Até o rinoceronte de pelúcia?
- Principalmente. Tinha o perfume dele.
- Patético.
- Também acho. Mas eu gostei.
- Eu sei. Eu também. E agora?
- Vou dançar um pouco. E depois que me recuperar desse porre digno de Kerouac, vou aceitar o trabalho. Fotografo um ou dois hambúrgueres e uns dois quilos de carne crua, e com o dinheiro compro uma passagem. Vou para uma cidade tão pequena que só vai ver onde fica se olhar o mapa com lupa.
- Você só vai causar tumulto lá!
- Hã hã. Causar tumulto e voltar.
- Jura?
- Não. – e olhando para fora do bar: - olha isso!
- A velhinha está batendo no cara com um lenço! O que tem dentro?
- Acho que são moedas, pelo barulho...

-4-

- Ouve isso: “ Acreditais então que ela ousaria levar minha cabeça coroada ao cepo do carrasco?”
(irritado)- Onde foram parar os picolés de uva dessa maldita cidade? Quem disse isso, Elizabeth?
- Não. Mary Stuart. – blasé – Você está tentando parar de fumar de novo?
(mais irritado ainda) – Como assim tentando?
(ela levanta os braços como quem diz: Desculpa, cara já estou mudando de assunto).
- Sobre o que eu estava falando mesmo?
- Você falava de amor. Há dias fala de amor...
(ele riu alto) – O amor sempre me lembra uma gatinha que tive. Ela acreditava estar grávida e começou a produzir leite.
- ? – outra baforada.
- O amor é como esse leite. Algumas pessoas produzem a mais e ele empedra. Atrapalha, vira atraso de vida. Quando eu era criança acreditava que “boca” era um palavrão. Hoje penso isso de casamento. Odeio essa palavra. Provoca reações inesperadas nas pessoas. Odeio mesmo.
- É porque você nunca se casou. E nunca achou a pessoa certa. Algumas pessoas pedem casamentos!
- Você acredita mesmo nessa tal de pessoa certa? – ela interrompe- Vocês estão juntos, está legal. Ótimo. De repente você quer mais, ou ele quer mais. E é muito difícil os dois quererem o mesmo tanto ao mesmo tempo. Você acha mesmo, de verdade, que é a pessoa certa para ele?
(ele passa as mãos nervosamente pelos cabelos) – Queria que fosse. Queria levar as coisas de um jeito mais leve, eu...
- O famoso deixar rolar – ela brinca como maço de cigarros – Pensa bem, é melhor assim. È mais fácil dizer adeus e ouvir adeus também.
- Tem mais um?
- Sorvete de uva?
(ele pega o último cigarro e acende)
- E vocês, o que falta para acabar?
- Falta ele correr atrás de mim...
- Moço, me vê dois maços de cigarros e mais uma cerveja – e virando para ele: Amor, sempre o Amor! A noite vai ser longa!

-5-

- Eu me lembro bem, Dina, da minha mãe. Algumas vezes ela chorava sozinha, do nada, e eu ficava nervoso, querendo saber os motivos. E com medo de saber a resposta. Ela foi... ela é tão forte. Um tempo depois- ele ri- quando fiquei grandinho e pude entender essas coisas ela me explicou. Toda a angústia de se achar tão pequena e insegura, não chorava pelo divórcio, chorava porque não tinha dado certo e não queria ser responsável por um fracasso tão grande.
- Sabe o que é uma droga? Ouvir: “ você fez o que tinha que ser feito!” Que grande besteira! Então por que o certo dói tanto? E por que, raios, a gente sofre tanto? Por nada?
- Quando a gente ouve essa frase está sofrendo mais com a decisão do que com a dúvida. E eu não questiono sua escolha, pode realmente ter sido o melhor a ser feito. Foi melhor que muitos passivos e confortáveis em sua inércia. Aceitam o mínimo, a primeira oferta. E tudo isso com medo de sofrer um pouco antes de se expor a algo melhor, a um mínimo de liberdade. Tomar uma atitude, qualquer que seja, significa força e coragem vencendo o comodismo. Minha mãe fez isso. Mesmo infeliz, foi livre. E você, Dina, fez o que tinha que ser feito! – ele riu – E não levanta essa sobrancelha para mim!

-6-

(ele volta do banheiro, acende outro cigarro e, ainda em pé, a encara) – O inferno é aqui!
- O Paraíso, também. Está tudo aqui. Sem vida após a morte, sem reencarnação, sem recompensas que transcendem ao tempo... Isso é tudo o que temos! A maioria das pessoas sabe disso, por essa razão somos inundados por frases como: “colha o dia!”. Se Deus existe, ele existe Aqui e Agora, para mim, para você, para aquele mendigo arrastando o carrinho ali fora. Mas Deus não poderia ser um. São vários deuses individuais, que se parecem comigo, com você e com aquele mendigo... Escuta, meu Deus não envia pragas como AIDS, que punem até quem não nasceu. Simplesmente não temos memória de supostas vidas anteriores. Minha alma não tem essa memória! Eu nem sei se tenho realmente uma alma! Tudo o que possuo é o que aconteceu em 24 anos! E se eu for esperto o suficiente, posso com isso prever o meu futuro. Fomos criados assim: feios, imperfeitos e pecadores. E mesmo assim, existe em nós o Belo, o Amor, a Vida! Se ele existe, minha cara, está em algum lugar dessa gigantesca maçã, cofiando a barba e dizendo: “Danadinhos!” Não superamos o Barbudão, seguimos juntos. E cada um de nós dá seus próprios passos. Eu sou o “capitão da minha alma”.

-7-

- Acho que você não diria uma coisa dessas quando pequeno. Não consigo imaginar uma criança não dizendo coisas do tipo: liberdade, igualdade e fraternidade. É quando a gente cresce que esse discurso para de fazer sentido. Nós nos juntamos aos nossos inimigos porque não conseguimos detê-los. E não é que eu não acredite em maldade infantil, essas crianças cruéis já nascem sem o que vamos perdendo. E nesse ponto elas podem matar, mentir ou dizer que não querem brincar com você porque é daquele ou desse jeito. Cinderela! Cinderela era tudo o que eu queria ser. Ela é forte e acredita em si mesma, não se deixou vender por tão pouco! Chegou, agarrou seu príncipe e foi ser feliz, eternamente feliz. E é nesse ponto que eu me perco.Já fui eternamente feliz algumas vezes. Mas acabou. O feliz pra sempre, acaba. Na primeira briga, na diferença de contra-cheques. Você é trocado pelo maior, menor, mais arredondado, mais ou menos culto. A grande pergunta é: queremos realmente achar aquilo que procuramos ou nos contentamos com a busca? Ainda é Cinderela! E depois que se casaram e que ele deixou a tampa da privada abaixada? Por acaso ela não tem cólicas, fúrias? A maioria de nós fica feliz com o caos. É outro tipo de vício: o das drogas que você mesmo produz, e aí o que mata você não é o cigarro, a violência, o enfarte. O que mata você é o Amor, a Tristeza, a Raiva. O seu corpo grita: decifra-me ou te devoro! Ou você aprende a conviver com o que provoca e consome ou entra em um processo autofágico. E esse aprendizado se chama adaptação. Meus parabéns, depois de adaptado você se torna um ser social. Seja bem vindo ao Inferno, eu sou Dina e serei sua guia... Ou para ser mais poética: Deixai toda esperança, ó vos que entrais!

-8-

(ele tira um papel do bolso e lê)
Aqui estou
De pé
Conversando e rindo
Novas idéias
Novos projetos
Nova vida
Com minha roupa nova
O que você não vê
São as cordas que me mantém
Assim, de pé, forte, bonito
Sorrindo
Simulando a segurança que você levou
Meu riso vazio
Minha conversa fiada
Meus votos de “vão para o inferno”
A todos que cruzam meu caminho
Meu amor, minha vida
Minha felicidade
Parte de mim
Ainda estou aqui
Com meus olhos brilhantes
Com braços abertos
De esperança!
Volte um dia e me tenha de novo
Volte algum dia
Volte.
- Quando terminamos, eu sempre achei que era a parte que amava mais. Não entendi sua distância. Entendo agora, quando você ama, é mais fácil fingir que não se importa tanto. Quase tudo é fácil, é burrice. Eu sou quem ama menos.

-9-

-Toda filosofia do mundo está nas ruas, Dina. Todos os filósofos que interessam estão bêbados, escorados em postes, em esquinas, em bares. Esbarrei com um espécime desses no mercado um dia desses. Era uma senhora, muito velha, com uma toca vermelha e um casaco marrom. Ela se virou, com uma lata de ervilha nas mãos e me disse que se nos preocupássemos menos em colocar alimentos e pessoas em latas, seríamos mais felizes! E eu pensei nisso por mais de duas semanas! Na metáfora da limitação! Da contenção! O limite espacial e o limite intelectual. E um leva ao outro, eles se fundem, se encontram como em um círculo: quanto mais longe você está do ponto de partida e mais perto da chegada é quando você está mais perto de onde você saiu!
- Sam, já parou pra pensar que ela passou em dois segundos o que pode ter levado uma vida inteira para aprender? De graça. Ali em um dia... É por isso que eu acredito em empatia. Você faria o mesmo? Ela faria o mesmo com outra pessoa? Falaria o seu segredo para o carinha que empilha as ervilhas?
- Uma corrente do bem, agora que acabo de passar o segredo dela para você! – ele riu. Há salvação para os homens de boa vontade porque entre uma lata de ervilha e um amaciante, dois iguais se encontraram... Como se reforçássemos o que pensamos apenas expondo, compartilhando esse pensamento.
- Ervilhas, hein? Vou prestar mais atenção quando for ao mercado.
Foram interrompidos pelo barulho metafísico de uma cerveja sendo aberta.
- Pensa bem. Somos complexos. Se falar algo delicado e parar para estudar a reação de alguém, em 99% das vezes, vai chegar a uma conclusão que vem mais do seu próprio julgamento do que do sentimento do outro. E vai com certeza catalogar em boa ou má. Definitivamente maniqueístas! Facilita a vida. Mas é falso. Aparente. Por isso o dinheiro é tão importante. Eu sou como você, levei um fora semana passada, fui humilhado na escola, elogiado no serviço, pratico sexo regularmente... Mas com um relógio que vale seu carro, pareço especial. Quase divino. O que você acha?
- Que eu passei minha vida inteira comendo sushi do jeito errado! Quando me levantar dessa cadeira vou procurar uma nova canção. Consigo me lembrar mais das músicas que marcaram os relacionamentos do que deles de uma maneira geral. Acho. Ou então, quando conseguir chegar até a rua, deva dormir como uma mendiga, encostada em você! Não, você não dormiria na rua... Tem um amor, tem que fazer por merecer!
E a Noite das Noites foi chegando ao fim...

sábado, 12 de setembro de 2009

Do porquê das coisas

Eu normalmente levo algum tempo para tomar decisões. Não saberia dizer se é defeito ou qualidade. Demoro e ponto. Uns dizem que tem a ver com o signo: librianos são os eternos indecisos. Coincidência. E coincidências não alteram fatos. Mas fui confrontada com um: “Por que você faz isso?” e sou obrigada a dar uma resposta satisfatória. Alguns dias depois eu decidi que já estava na hora de começar a pensar nisso.
1- O “porque sim” é infinitamente sedutor.
2- E não ajuda nada.
3-“ Porque eu me importo”
4- “Porque eu sou sua mãe” não cabe dessa vez... infelizmente, já que é a versão adulta do “Porque sim”.
5- Aqui é onde o “então...” entra e você se perde.
É preciso que tome partido, que defenda seus interesses, que venda seu peixe, que proteja seu ego, seu orgulho e saia intacto. Nada disso combina com a verdade, não no meu caso.
Caught red handed in the act.
Sujou.
Gulp.
Vamos aos fatos. Eu realmente me importo, senão não estaria brava, me descabelando para fazer com que seja diferente, com que seja leve e gostoso. Estou tentando deixar coisas para trás, atitudes minhas, tentando ser mais desprendida, não dissecar tanto os detalhes, não estudar personalidades e atos como se fossem problemas. Meus problemas.
Estou me sentindo exausta. Spent seria uma boa tradução. Bagaço. Pó. Pobre de mim que tenho dormido mal, se durmo, pensando em curar meus próprios calos. Pobre de mim que não posso ouvir de novo uma nova versão do mesmo fato.
Eu quero mudanças! Quero boas notícias! Quero saber que tem problemas mas que tem capacidade de resolver... Mesmo que saiba ou tenha a impressão de que pede minha opinião para que eu me sinta útil. Ou pode ser que seja a única brecha que encontrou para entrar em contato com a exigente libriana. Eu não tenho respostas. Não essas.
Mas está aqui uma vontade enorme de fazer as coisas funcionarem, de ter prazer em pequenos diálogos, em pequenos encontros. Reais. Virtuais. De não olhar para trás até uma distância segura, estátuas de sal sempre me impressionaram. De mostrar que minhas respostas a problemas simples são tão boas quanto aos complexos. De não encontrar orgulho onde não devia ter. Onde diz-se não ter.
Eu estava lá quando precisei.
Eu não sei lidar com fins. Muito menos quando não os quero. E ainda tem esse tal de mundo adulto em que eu faço parte de acordos sobre manter laços, quando o mais fácil é cortá-los e curar feridas antes de reatar as pontas.
Eu não sei perder.
Eu mantenho a palavra mesmo quando me faz mal.
Eu uso meu tempo para resolver seus enigmas.
Eu passo a você um poder que não possuo sobre meu próprio mundo.
Eu vou me envergonhar disso. E vou sofrer por isso. E me considerarei forte, desprendida, humilde e boba.
E estarei lá quando eu precisar.
Porque foi essa a decisão que tomei.

sábado, 5 de setembro de 2009

Da maternidade II

Eu quero ter filhos.
Ontem eu não queria, mudei de idéia! Eu tinha uma vontadezinha pequena de adotar, a vontade foi crescendo e agora já quero mais do processo.
Ao ouvir conversas de mães, fui montando meu ideal pouco a pouco. Que delícia que deve ser ensinar um serzinho, falar mil vezes a mesma coisa, assistir mil vezes ao mesmo desenho! Cansei de me dedicar a mim, somente a mim, meu umbigo... meu, eu, mim.
Eu tenho medo de ter filhos.
Eu tenho medo da responsabilidade. Tenho medo de errar, de criar um monstro, de não conseguir dar conta... Pra quem eu devolvo? Tem recall? Tem manual por acaso?
Meus pais nunca incentivaram nem maternidade, nem casamento... pensando bem, vou deixar meus pais para outro dia.
Ficaria mais fácil se já viesse pra casa um grandinho. Que soubesse o básico sobre ser bebê, já que a mãe não sabe... Mas eu não sentiria meu filho mexer... Não amamentaria em locais públicos, mas também não poderia passar meus anticorpos, meus genes, meu mau gosto. Eu ainda preciso pensar, ser mãe solteira por opção é bem mais difícil do que eu pensava! Exige preparo psicológico!
Mas eu quero. Muito.
Como vier, do tamanho que vier, vai ser uma boa criança.

Da maternidade

Cheguei mais cedo no serviço ontem, como isso não significa nada para ninguém, fui conhecer a sala de leitura do local. Quase ninguém por lá e várias revistas disponíveis. Fiquei com a Marie Claire (uma das melhores da prateleira, juro!) e fiquei intrigada com a reportagem de uma brasileira que havia decidido engravidar aos 53 anos. Controvérsias à parte eu apoio. Em primeiro lugar, apoio a decisão dela de mesmo sendo solteira, ser mãe. Depois de dois casamentos falidos, nos quais os maridos não queriam ter filhos, ela decidiu realizar um sonho. Quem pode condenar isso? Quem pode impedir uma mãe consciente em um mundo onde tantas mulheres engravidam, abortam, abandonam, maltratam? Quanto aos riscos, que mãe não corre riscos? Que mãe não conta os dedinhos do recém-nascido?
Ficamos sempre divididos entre o sonho e o certo. Esperamos que o sonho seja o certo. E se não for? Assumimos os riscos.
O bebê está bem, ela está ótima e eu estou pensando seriamente em fazer o mesmo no futuro.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Eu () motoboy

Esse foi o nome da comunidade que acabei de criar. Minha relação com esses pilotos variou bastante de uns tempos para cá, depois que meu irmão comprou uma moto para ir trabalhar. Fiquei com medo de ele se machucar e dei vários motivos contra, inclusive o fato de que motorista de carro não respeita motoqueiro. Peraí! Eu respeito motoboy e eu amo meu carro! E quero que o Júnior seja respeitado, socorrido em caso de acidentes, protegido, já que os motociclistas são infinitamente mais vulneráveis aos acidentes. E exijo dele o mesmo respeito e o dobro de cuidado. Não somos Superpatetas! A pessoa dentro do carro ou em cima da moto tem vida, pais, irmãos, um emprego, horário a cumprir... É um motorista-piloto! Podia ser eu!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Façamos!



Pode ter certeza de que você não está nada bem, quando para, coça a cabeça, e olha pros lados. Meu caro, você está perdido! Não que seja o único, duvido que sejamos únicos em qualquer coisa, existem pessoas demais no mundo pensando ao mesmo tempo. Pessoas demais para permitir esse tal negócio de exclusividade. E se ao olhar para os lados, chegar a questionar o sentido de estar parado ali, consulte (sempre) um psiquiatra. Questionar o sentido da vida é sinal de que não está nada satisfeito com a sua e não consegue mudar sozinho...

Mudar não é difícil. O sal no olho é conviver com a mudança até que se torne rotina!

sábado, 11 de julho de 2009

Larguei o tricô e fui ao cinema


Quando o cinema mistura comédia, música e fotografia....

Leningrad Cowboys banda e filme

Vale a pena.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sonhos I - A Santa Ceia

Eu não acredito em sonhos premonitórios...
Acordei após um sonho estranho, me sentindo triste. Não consigo traduzir a sensação, apenas emoções ruins misturadas: culpa, angústia, arrependimento desvinculado da possibilidade de se voltar atrás.
Eu havia sido convidada para um encontro simples, de devolução de livros ou algo do gênero com um cara que tinha feito parte da minha vida por um tempo. Estava tranqüila, não esperava nada, nem reconciliação, nem brigas, apenas o livro.
Ao chegar ao local, fiquei intrigada pois havia mais pessoas sentadas à mesa: do lado esquerdo, a irmã dele; do direito, o irmão do meio; de costas mas em pé, o irmãozinho, vestido de fraque e com gel no cabelo, se virando e me olhando com expectativa... e à frente, ele em pé, com as mãos apoiadas nos ombros do pai e da mãe... Só pude pensar na importância que tinha para ele, ter reunido toda a família, inclusive a mãe morta...
Senti minha pele se arrepiar mesmo estando dormindo e uma tristeza tão grande ao perceber os olhos de sua mãe, tão santos, plácidos, como se me entendesse e respeitasse minha opinião, mas infeliz com o resultado...
O sonho não passou daí, das impressões, dessa cena. Apenas a mesa e eu constrangida e vulnerável.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A difícil tarefa de deixar para trás


De vez em quando minha auto imagem é a de uma Eleanor Rigby com um gigantesco carrinho lotado de apetrechos e lixo. Que os eco-maníacos de plantão não me leiam, mesmo porque se evito o termo material reciclável é justamente devido à minha necessidade de dar ênfase à inutilidade do que venho arrastando.

Um dia, ao me lembrar de um fato constrangedor, corei. Tal fato ocorreu há quase vinte anos! Lixo. Que me servisse de lição. E só.

Tive que sacrificar uma das minhas gatas e eu simplesmente não consigo me lembrar do instante em que a veterinária me entregou o corpinho ainda quente e flexível, sem sentir uma dor tão profunda que me assusta.

Eu fiz o que pude. Por que a culpa? E a dor extrema?

Levei algum tempo para aceitar que a pessoa que estava ao meu lado não está mais. Gastei horas pensando nos erros, consertando mentalmente, para descobrir o óbvio: se um cara quer uma garota, ele se manifesta.

É preciso deixar ir, deixar passar, deixar estar...

Ao dia sua própria aflição.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

CIA, KGB, LMS, JAS



Meu pai, o Sr distinto da foto ao lado, comprou uma antena americana para melhorar a imagem das TVs daqui de casa. Não temos TV paga, em parte porque eu odeio TV e ele só assiste ao Jornal Nacional. Gostos duvidosos à parte. O que me intrigou foi o fato de que ele relutou em instalar a dita cuja, com medo de espionagem. Isso mesmo.
Não, meu querido progenitor não é paranóico, até onde eu sei. E também não tem traumas de guerra. Nem assistiu Arquivo X, não conhece o Garganta Profunda e não quer acreditar. Mas desconfia dos norte-americanos. Fiquei um tempo pensando se deveria tirar dele essa idéia e valorizar a imagem da TV. Desisti.
Vai que ele tem razão?!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carta a(o pai de) Sofia

De onde você está, não sei o que vê. Talvez me veja de cima ou compartilhe meu espaço; mas sei que está por perto. Muito provavelmente porque quero que esteja. Espero e desejo que esteja.
Não pertence a mim agora. Pertence só a ele. Ao pai. Seu pai. Quando puder, venha visitá-lo. Não traga doces, flores ou incensos. Traga um mapa. Decodifique seu labirinto, coloque seus pés em movimento e desenrole-o do caracol.
Se puder, fique forte e visível e sussurre um beijo ou encoste seus pequenos dedos nas grandes mãos que, entrelaçadas, se limitam.
Levante a cabeça, que pesada de tanto uso, pende. Mostre ao seu coração, seu próprio reflexo. Apenas. Faça-o ver que a compaixão também é destinada a quem sente.
Ao passar-lhe os dedinhos pelo cabelo, não seja breve. Sente-se ao seu lado. Ouça o seu respirar. Distraia seu sofrer. Cante para ele canções de infância...
Cante por mim...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O coelho

Coloquei os pés para fora de casa
Só os pés
Assim, pela janela mesmo
E o dia foi diferente.
Aí eu coloquei as mãos
E fiquei acenando
Sem cabeça ou corpo
Só mãos e pés
Coloquei a cabeça
E finalmente vi o mundo
Que me via
Os pés e as mãos
E tendo visto o mundo
Saí de casa
De corpo todo!

A resposta

Isadora estava feliz
Chuva lá fora
Ecoando tamborins
Ela dançou
Sem sapatilhas
Pé frio
Toca o telefone
E o coração sufoca
O som
Tam-bo-rim
Tum-tum
Trim

sábado, 30 de maio de 2009

Do livro de anotações do Gepetto


E quando quem mente para você, está mais perto do que imagina? É fácil aceitar (entre aspas, crianças), que o cara que aparece na TV dizendo que seu salário vai aumentar e até vai dar pra comprar pão, mente... Mas se o cara de pau, for seu melhor amigo?
A última mentira que ouvi (modo de dizer, não ouvi, eu li) foi mais ou menos assim: “ Acho que tem vírus no meu MSN... ” isso depois de eu comentar que havia duas mulheres paquerando meu ex-ficante e amigo.
O cara trocou de MSN e continua a receber mensagens do tipo:

BB... Adorei estar com você!!! Merecemos mais... rsrs. Bjusss

Que vírus mais carinhoso!

Gargalhadas à parte, não minta, nem se dever algo importante, como satisfação para alguém! E nunca, nunca minta para um amigo... É mais difícil de perdoar o Pinóquio ao lado do que o Pinóquio televisivo.
E é muito mais legal ser ex ficante que ex amigo!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

mr right

"Que desapontamento, pensei. Por um momento, pensei que ele fosse agir de maneira imatura e infantil. Ora, não importa. Haverá sempre outra oportunidade." mk

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Do fato de eu não ter disciplina

A primeira pessoa do singular do imperativo não existe, pois ninguém dá ordem a si mesmo.

ronronantes dias de sol

Um gato se faz líquido no quintal
Preguiçoso, olha os pássaros
Não se move
Tem sua própria hora
Relógio cárdio-respiratório-solar
Queria ser líquida
Como gatos ao sol

Capítulo sobre as coisas que a gente deixa para trás

Por mais que a gente sofra e pense no fim do mundo, apocalipse coisa e tal... Taí, é de manhã de novo e você está com olheiras e a cara amassada. Ressaca? Só se você achar que é bastante fraco e só pode passar pelos espinhos entorpecido.
Coragem, força, determinação, esperança...
É o que desejo aos que tiveram o coração partido um dia...
E aconteça o que acontecer, nunca, nunca mesmo, termine a noite ouvindo These eyes do The Guess Who... só vai piorar!

domingo, 24 de maio de 2009

Era um domingão...

Ok, continuando de onde parei. Ou de onde devia ter começado, do meu cotidiano.
Hoje o Cael mordeu meu pulso. Queria brincar de caçar. Ou foi isso o que concluí depois de assistir o tal veterinário e gato que também faz terapia com os bichinhos. Pulso arranhado, mas ainda viva, e isso também depois de uma caipirinha com gosto de óleo diesel. Urgh.
É mais fácil começar falando do que eu não fiz... dá mais assunto! Tenho uma blusa para tricotar, um tapete pra tricotar, e antes que pense que sou a minha própria avó, tenho uns dois ou três relacionamentos pra passar a limpo. Amanhã eu penso nisso, amiga Scarlett.
Melhor não, amanhã eu tenho prova e intelectualizar qualquer coisa depois de 5 longas horas pensando fica difícil!
Houve uma vez, em que eu e uma irmã fomos prestar Fuvest... ainda bem que foi na mesma escola e que a dita estava dirigindo! Depois de sairmos nos encontramos no corredor, cada uma em seu extremo (do corredor, não do nosso ataque de nervos), e não nos enxergamos! Parecíamos dois pistoleiros míopes olhando e franzindo todo o rosto pra ver se o inimigo estava lá mesmo ou era apenas o relógio da praça. Tsc tsc. Bons tempos aqueles. É claro que não passei no vestibular, nem naquele, nem em nenhum outro da supracitada fundação. (urgh).
Sobrevivi.
Sobreviventes são os moradores do centro velho de Sampa... Quanto lixo nas ruas! Mas os prédios são lindos. E o mendigo que me chamou de menina simpática também! RS. Facinha, facinha.
E minha vontade de não pensar em nada continua... Apesar de ter me perdido ao voltar da #$@&&* prova, encontrei duas mulheres simpáticas e viemos conversando até chegar na Estação da Luz (isso depois de eu tentar entrar na estação de metrô com o bilhete do trem... sabia que tinha algo errado!)
Vou dormir. Quem sabe não acordo menos distraída amanhã? Só vou deixar uma poesia antiga, que vira-e-mexe se torna recente.

Urgência

Quem pode dizer
o que passa pela cabeça?
Quantos novelos
Quantas cores
A desenrolar?
Se existem pontas
Quem dirá?
Mas diga rápido
Que me mata
O tardar
E tenho duvidas
Uma, duas, cem!
Sobre a cachola
E se nela há
No ou nós também!

sábado, 23 de maio de 2009

Corcovar é preciso...

Pois bem, eu começo com uma descoberta: finalmente encontrei o ponto de interrogação do meu computador! Incrível como isso é bom! Nunca imaginei que fosse me sentir tão pequena por ter um ponto doido, trazido de algum lugar em que se fala espanhol e não traduz o que penso. Quero um ponto correto, se tenho uma dúvida, ela é uma dúvida certa, não uma dúvida inclinada, de cabeça pra baixo, se equilibrando na minha frase inquisitória! ¿ ?
Eu passei uma semana difícil, tentando explicitar o limite entre minha manha, minha carência, e a minha necessidade de decidir o que faz realmente sentido. E não vou entrar na discussão de que nem eu mesma faço sentido, senão levo mais tempo em análise do que no meu relato.
Fato: ninguém deve ficar onde não é o seu lugar, roubando a frase do tal do Dylan, e colocando minha vida em poucas palavras. Lugares errados. Tenho a impressão de que, ou peguei o caminho mais curto e por isso mais fadado a um fim tipo Lobo Mau, ou peguei o caminho certo, tortuoso e longo que me levará ao paraíso.
Imagem: sem nem um vislumbre do paraíso, minha viagem tortuosa, longa e certa fica meio árdua! Conclusão: se estou no caminho árduo, longo, certo e tortuoso, ele me mostra uma ou outra flor para que eu não sinta tanto a feiúra de algumas coisas, e quando as flores demoram mais do que o normal para aparecer, ou quando eu fico tempo demais prestando atenção em verrugas, lodo e buracos, acabo achando que o tal do paraíso não está nem de perto na próxima esquina!
E digo mais, continuando minha visualização multicolorida, nesse meu caminho apareceram armadilhas, alçapões e encruzilhadas, e isso tudo levou alguns de meus acompanhantes. Um ou outro voltou, e novos se juntaram. Mas, como é um caminho tortuoso e cheio de adjetivos feios, é preciso uns passinhos pra gente chegar à conclusão de que a figura ao lado quer ficar mesmo ao lado, e não à frente ou atrás com uma faca...
Acontece de a gente vislumbrar algo lindo, sair correndo, e descobrir que o que brilhava tanto era um corpo de cobra e não olhos de gato. E também acontece de a cócega que assusta não ser um inseto hematófago (aula de biologia é cultura), e sim, um rabo peludo de um gatinho que adota você como caminhante companheiro da tortuosa estrada longa.
Se dou uns passinhos e olho meu esboço, percebo que não sei reclamar. E que não quero aprender.
E se me permite incluí-lo no devaneio, você meio que desapareceu no meio do diálogo, me deixou pensando sozinha. E não se esqueça de que esse é o MEU devaneio, não o SEU. Não sei qual filósofo disse um dia que nós viemos de um único ser, de uma bolotinha qualquer que ainda luta para ser inteira, o que explicaria toda a nossa angústia de ter companhia. E de questionar se nada se perdeu ao juntar as partes, como no caso da xícara quebrada que mesmo colada, deixa de ser a mesma xícara inteira... sem energia de ligação não se faz uma xícara nem com mil pedaços!
Não se esforce, caro Dromedário, se porventura não entender um pixel dessa tela. Eu também não sei escrever o que penso... Sempre quis um cabo que ligasse minha mente a outra mente. Ou a um tradutor. Mas tenho aprendido a viver sem fios. E a dizer quando não me expresso e a não me expressar quando digo. Se é que isso tudo faz algum sentido. Ou rima.
Minha intenção era concluir. Um the end simples, americanizado. Bem diferente do meu enredo francês.
E fico feliz que tenha ido recuperar sua corcova em um oásis que só você vislumbrou. Mesmo, mesmo. Espero que quando voltar, me traga imagens desse lugar, que possam ser transcritas em palavras e gestos. Um toque italiano para o meu mundo eclético.
Ir, voltar, longe, perto... metafísicas!
E quando eu apertar finalmente a tecla ENVIAR, vai ser com a condição de não me perguntar o que eu quis dizer, porque o que eu quis dizer, está dito... Com ou sem querer. Acho.
E se realmente preferir uma carta do tipo: quando vai adotar seu gato? Quando vou ver vc tocar? Que ótimos conselhos me deu! Tenha um bom dia!!!! ... Desista. Daqui saem parábolas sobre caminhos arduamente longos e tortuosos, e ás vezes áridos de deixar qualquer corcovado à procura de um laguinho azul! E sobre flores e gatos e gestos e palavras sobre companhia que fazem a trovadora se sentir tocada...
È isso.
-Fin-